Curso
Capacitação Docente em Educação a Distância em Saúde

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A Necessidade de um Novo Ensino em Saúde

Por José Batista C. Tomaz

O presente ensaio tem o objetivo de responder três questões. A primeira é:

1. Há muito tempo as escolas de engenharia resolveram se dividir em áreas (elétrica, mecânica, química, etc.). Não existe mais um escola que integre todas as engenharias. Porque isso não acontece com a medicina? Seria desejável? Imaginem o conhecimento e a prática médica daqui a 50 anos! Como será, na sua opinião, a educação médica na metade do terceiro milênio?

Para falar a verdade, acho que nunca tinha pensado na possibilidade de fragmentar o curso de medicina mesmo com o crescente aumento de conhecimentos. Na realidade não sei se podemos fazer um comparativo com a engenharia. A medicina além de uma ciência é antes de tudo uma arte e arte é até certo ponto indivisível. Ao meu ver não se concebe um médico que só estudou a cabeça, ou o tronco, ou os membros. O ser humano é bem diferente e bem mais complexo do que um prédio. 

Ë verdade que o volume de conhecimentos médicos está duplicando a cada quatro anos. Mesmo assim, cerca de 50 % dessas informações (principalmente sobre novas terapias) está obsoleta após cinco a seis anos. Além disso a carga horária está excessiva (mais de 10.000 horas) e a metodologia utilizada na grande maioria dos cursos médicos ainda está baseada no quadro negro e giz. Isso leva a uma desmotivação do aluno, estimula um aprendizado superficial e acaba por formar um médico que pode até ter algum conhecimento, mas é totalmente inseguro em termos práticos. Um estudo no Canadá, em 1969, desenvolvido por Barrows e colegas demostraram que os residentes se saíam muito bem em teste  de múltipla escolha, mas não iam muito bem quando era colocado à beira do leito. Faltava a aplicação prática dos conhecimentos. Daí surgiu uma das alternativas metodológicas que vem sendo utilizada por várias faculdades no mundo: a aprendizagem baseada em problemas ou Problem-based Learning (PBL).

A solução, portanto, não é simplesmente fragmentar o conhecimento. Ele sempre vai crescer e mudar ao longo do tempo e cada vez mais rápido. Há um grande dilema entre os planejadores de curso – por um lado o desejo de querer cobrir todo o conteúdo, por outro o tempo limitado. Esse dilema sempre vai existir. Por isso hoje o que se torna objetivo principal de qualquer curso é o desenvolvimento de habilidades e atitudes e não só de conhecimentos. Dentro das habilidades está a de aprender a aprender, ou seja, a capacidade de resolver problemas. Para isso temos que incentivar o “life long learners” – aqueles que aprendem para a vida toda.
 

2. Existem muitas barreiras para que os médicos e outros profissionais de saúde efetivamente participem da educação continuada e da educação à distância no Brasil. Quais seriam as principais, na sua opinião? Como mudar o ensino de saúde de graduação para derrubar essas barreiras? Como levar o profissional de saúde a usar mais as tecnologias de informação no seu dia a dia?

A primeira barreira é conseqüência do próprio processo de formação, ou seja, ele não ensina o aluno a aprender. Uma das ferramentas importantes para o processo de educação permanente é a habilidade que o aluno tem que ter de ir em busca da informação. Mas não basta encontrar a informação. No meio de milhões de informações o aluno tem que ter a capacidade de discernir quais as fidedignas, as que merecem confiança, as que são baseadas em evidências. Se o aluno não adquire essa capacidade ele vai ficar sempre refém dos raros, desconexos e muitas vezes, sem qualidade, cursos curtos de “reciclagem”. Aliás, como o nome sugere, muitos desses curso não passam de verdadeiro lixo.

Uma outra barreira, que está intimamente ligada à primeira, é que o ensino médio e mesmo os cursos de graduação não formam o aluno, apenas informam. É deprimente constatar que entre os futuros médicos e demais profissionais de saúde muitos não sabem utilizar a língua pátria, nunca manusearam um computador e nem domina outro idioma. Essa situação dificulta enormemente o processo de educação permanente.

Uma terceira barreira é a dificuldade de o profissional conciliar estudo e trabalho. Na minha tese de mestrado em educação para profissionais de saúde, onde eu investiguei a percepção dos potenciais alunos de um curso de especialização em saúde da família à distância (médicos e enfermeiros de família), um dos maiores entraves identificados foi exatamente o fato de não poderem se deslocar constantemente de seus municípios para a participação de um curso de capacitação. O próprio secretário municipal de saúde não os liberavam e a comunidade passava muito tempo desassistida. Portanto a existência de cursos só presenciais dificulta muito esse processo. A EAD pode e deve ser uma alternativa.

Portanto, para solucionar essa situação é preciso mudar não só a graduação, mas também o ensino fundamental, na direção de ensinar o aluno para a vida. Dessa maneira temos que nos preocuparmos não com a informação, mas com a formação do indivíduo. Para isso os cursos têm incluir como objetivos o desenvolvimento de habilidade e de atitudes e não só conhecimentos. Além disso o sistema educacional tem que facilitar o acesso dos profissionais aos programas educacionais. A EAD de qualidade é uma das alternativas. 
 

3. Examine as Diretrizes Curriculares para o Ensino Médico. Identifique quais os ítens que tem a ver com a adoção de tecnologias de informação nas faculdades?

No Art. 4º - Ao final do curso o aluno deverá ter as seguintes competências:

    I. Buscar a educação permanente, especialmente a auto-aprendizagem

   II. Comunicar-se adequadamente com os colegas de trabalho, os pacientes e seus familiares

  III. Informar e educar seus pacientes, familiares e comunidade em relação à promoção da saúde, prevenção, tratamento e reabilitação das doenças, usando técnicas apropriadas de comunicação;

Comentário: Para se desenvolver essas competências se faz necessária e oportuna a adoção de tecnologias de informação nas faculdades.
 

VII. Exercer a Medicina utilizando procedimentos diagnósticos e terapêuticos validados cientificamente

XII. Conhecer os princípios da metodologia científica, possibilitando-lhe a leitura crítica de artigos técnico-científicos e a participação na produção de conhecimentos;
 

Comentário: Nesses itens o aluno precisa utilizar as ferramentas da Medicina Baseada em Evidência, que está intimamente ligada à internet.
 

XXI. Utilizar com propriedade a língua portuguesa, compreender textos científicos em outro idioma e ter conhecimentos de informática;

 XXII. Manter-se atualizado com a legislação pertinente à saúde. 

Comentário: Como enfatizado nas respostas das questões 1 e 2 acima, os alunos têm que adquirir algumas ferramentas para aprender à aprender. Isso também está ligado à adoção de tecnologias de informação nas faculdades.
 

Art. 7º - As metodologias utilizadas deverão privilegiar a participação ativa do aluno na construção do conhecimento e a integração
 entre os conteúdos, além de estimular a interação entre o ensino, a pesquisa e a extensão.
 

Comentário: Novas metodologias deverão ser incorporadas nos cursos de medicina. As tecnologias de informações podem dar uma grande contribuição.
 

Art. 14º - O projeto acadêmico de cada curso de Medicina poderá incluir aspectos complementares de perfil, habilidades e conteúdos, de forma a considerar a inserção institucional do curso, a flexibilidade individual de estudos e as necessidades, demandas e expectativas de desenvolvimento do setor saúde na região.

Comentário: A flexibilidade individual de estudos é fundamental para o processo de formação do médico. As tecnologias de informação permite uma incomparável flexibilidade.
 
 



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