Curso
Capacitação Docente em
Educação a Distância em Saúde
![]() Volta para a página principal de Ensaios A interação no Ensino à Distância Por José Batista C. Tomaz 1. Introdução Este ensaio tem o objetivo de refletir
sobre a interação no EAD sob a ótica da teoria de
aprendizagem baseada na psicologia cognitiva e no construtivismo, sua importância
dentro do EAD, bem como propor algumas estratégias pedagógicas
para melhorar a interação entre os participantes de um programa
educacional à distância. Em última análise tentarei
responder a seguinte questão: Que estratégias pedagógicas
eu usaria como professor para reduzir o isolamento social dos alunos em
um curso de EAD, e para aumentar a interação entre eles em
determinadas atividades do curso?
2. A interação e as teorias de aprendizagem cognitivista e construtivista A Metodologia em EAD se baseia fortemente na abordagem pedagógica construtivista. Dessa forma, estimulam-se diversas características de aprendizado atualmente exigida pela moderna educação profissional, uma vez que o foco é orientado ao binômio aluno/aprendizado, ao invés do binômio convencional professor/ensino. A lógica é semelhante ao famoso ditado chinês “é melhor ensinar a pescar do que simplesmente dar o peixe”. Esta abordagem leva o estudante a buscar, de forma orientada, o conhecimento de que precisa. Com isso estimula o uso do método de pesquisa, induz o trabalho em grupo e permite uma maior articulação entre teoria e prática. Toda estratégia pedagógica tem que ser coerente com a linha teórica de aprendizagem determinada no desenho de qualquer curso, inclusive cursos de EAD. Assim, qualquer estratégia de interação tem que levar em conta os princípios teóricos da aprendizagem. Partindo do princípio que a linha teórica de aprendizagem que melhor se adequa às necessidades de formação de profissionais para o século XXI é que se baseia na psicologia cognitiva e no construtivismo, podemos citar alguns desses princípios (Brunning, Schraw, & Ronning, 1995): o primeiro é a ativação do conhecimento prévio do aluno. Pesquisas demonstram que as ‘novas informações’ são melhor aprendidas quando ligadas ao conhecimento ou às experiências anteriores do aluno. Um segundo princípio é a elaboração do novo conhecimento adquirido. A elaboração, segundo a teoria de Anderson (1988), faz com que as novas informações sejam armazenadas, por tempo teoricamente infinito, na memória de longo termo, de modo que, tais informações podem ser resgatadas pelo indivíduo quando forem necessária para resolver um problema, por exemplo. Questionamentos, reflexão, resumos, estruturação do tema em estudo em esquema são algumas técnicas para elaborar o conhecimento. Um terceiro princípio é a “estrutura cognitiva”. Anderson (1988) propõe que as novas informações quando elaboradas, portanto aprendidas, são armazenadas na forma de estrutura cognitiva. Uma estrutura cognitiva é a junção de dois conceitos. Ex. O gato é um animal (junta-se a figura do gato e o conceito de animal). A complexa inter-relação das estruturas cognitivas em ‘rede’ é que fazem o verdadeiro aprendizado do aluno. Ou seja, a quantidade de detalhes das ‘redes’ cognitivas, o número de relações entre os conceitos e a maneira que a rede é organizada determinam a recuperação e utilização do conhecimento. Isso tem importantes implicações em termos educacionais principalmente na estruturação do currículo. Um currículo baseado em disciplinas estimulariam a aquisição de estruturas cognitivas separadas e estanques. O currículo baseado em problemas estimulam a aquisição de estruturas cognitivas mais interrelacionadas. O mesmo acontece nos currículos médicos onde as disciplinas básicas são separadas das disciplinas clínicas, fazendo com que o aluno aprenda por exemplo, diversos mecanismos fisiológicos e patológicos no início do curso e só depois tenham que resgatar essas informações durante o estudo de determinada patologia. Um quarto princípio é a aprendizagem no contexto. É fundamental que o aluno aprenda num contexto o mais próximo da sua realidade. Por exemplo, o uso indiscriminado de livros-texto americanos no ensino médico faz com que os nossos graduandos tenham dificuldade de aplicar os conhecimentos no contexto brasileiro. Um quinto princípio é a motivação, em particular a motivação intrínseca, ou seja aquela que é inerente ao indivíduo, ao ser humano, e não somente a motivação extrínseca, que parte de fora do indivíduo (aumento de salário, kipromoção no trabalho, status, novas técnicas educacionais, etc.). Pesquisas mostram que o aluno motivado, principalmente intrinsecamente, tem uma maior facilidade para aprender. Um sexto e último princípio é a aprendizagem centrada no estudante (student-centered education) onde haja ambientes e oportunidades para o estudante construir seu próprio conhecimento, de maneira individual e/ou em pequenos grupos. Várias metodologias têm sido propostas como a Aprendizagem Baseada em Problemas (Problem-based Laerning – PBL, Aprendizagem por Descoberta (Learning by Discovery, etc.). Na realidade ficamos satisfeitos quando aprendemos fazer coisas, desde muito jovens (como por ex., andar). Estudantes on-line são vistos como seres humanos que usam tecnologia para construir seu próprio conhecimento. Portanto qualquer estratégia pedagógica
de interação no EAD tem que ser elaborada levando em conta
esses princípios.
3. A importância da interação no EAD A interação no EAD deve se dar em três formas: aluno-professor, professor-aluno, aluno-aluno. Um bom processo interativo entre os participantes de um curso à distância é fundamental para o seu sucesso. Na realidade a aprendizagem ideal no EAD é a interativa. É importante que todo curso de EAD supra as necessidades de interatividade do aluno com o professor e colegas e com o próprio tema em estudo. Embora separados geograficamente e temporalmente, o isolamento dos alunos é muito prejudicial ao processo de aprendizagem. Quando interagem, os alunos têm mais oportunidade de dividirem conhecimentos e experiências, fato de fundamental importância no processo de aprendizagem, de acordo com as proposições do cognitivismo/construtivismo. Na realidade, como afirma o texto da Coordenação de Educação a Distância da PUC-RJ . “quando os estudantes têm a oportunidade de interação entre eles e com seus instrutores, em relação ao conteúdo, podem construir dentro deles mesmos o próprio sentido e encontrar um significado comum para o que estão aprendendo. Muito do aprendizado, inevitavelmente, acontece dentro de um contexto social, e o processo inclui a construção mútua de um entendimento. E ao compartilhar conhecimentos, posicionamentos e até sentimentos, bem como uma participação com o grupo da solução de um problema, há um enriquecimento pessoal.” Frederic M. Litto, Diretor da Escola do Futuro da USP, presidente da ABED afirmou que “o que as pesquisas estão demonstrando é que os alunos que estudam à distância aprendem mais, por que eles conversam muito mais entre si sobre conteúdos dos curso por email e fóruns do que quando estão em sala de aula”. Isso demonstra “a importância do processo colaborativo entre os alunos, e de como o EAD depende tremendamente da ocorrência desse processo. Todo mundo sabe que, em aula expositiva, são poucos os alunos que se levantam para fazer comentários ou perguntas. No EAD, esse processo pode se tornar ainda mais prejudicial, se o ambiente da EAD não favorecer enormemente a troca intensa de informações entre os participantes. Quando isso acontece, nota o Prof. Litto, o grau de interação pode até aumentar em relação ao ensino presencial”. Gostaria de destacar nessa afirmação um termo “processo colaborativo entre alunos”. Isso implica que as estratégias pedagógicas devem estimular a colaboração entre alunos (como trabalhos em grupos) e não a competição. Pesquisas que comparam a EAD à modalidade tradicional (presencial) indicam que o ensino e o estudo a distância podem ser tão eficazes quanto a sala de aula quando, dentre outros fatores, há interação entre os aprendizes e o professor dá um "feedback" ao aprendiz em tempo hábil. Realmente, muitos aprendizes a distância requerem suporte e orientação para realizarem suas experiências de EAD. Este apoio se traduz exatamente na combinação da interação estudante-professor-estudante e estudante-estudante. Alguns resultados de pesquisas revelam a importância e a necessidade da interatividade no EAD. Vejamos a seguir alguns desses resultados. - os alunos valorizam o recebimento de "feedback" do professor (e, às vezes dos colegas) em tempo (exercícios do curso, exames e projetos, opiniões) e se beneficiam significativamente de seu envolvimento em pequenos grupos de aprendizagem. Tais grupos dão apoio e incentivo ao aprendiz quando aliados a um "feedback" adequado. - No EAD, o aluno sente-se, geralmente, muito mais isolado quando comparado com cursos presenciais. Desse modo, os fatores motivacionais que surgiriam do contato com os colegas e professores estão ausentes, faltando, também, o apoio imediato de um professor que possa estar presente, motivá-lo e, se necessário, dar atenção a suas necessidades reais e às dificuldades que surgem durante o estudo. A motivação é fundamental nos cursos a distância, uma vez que não existe o contato diário com o professor ou com os colegas. De fato, os alunos ficam muito mais motivados quando se encontram em contato constante com o professor e com os colegas. Um contato bem estruturado pode ser utilizado como uma ferramenta motivacional. Vimos acima no item 2 o importante papel da motivação no processo de aprendizagem. - No EAD muitas vezes os alunos de um determinado curso podem ser muito heterogêneos - de diferentes classes sociais, idade, profissão, interesses, personalidade, etc. Além disso os alunos seus professores têm, freqüentemente, pouco em comum no que diz respeito a experiências cotidianas. Por isso, precisam de mais tempo para que a relação aluno-professor-aluno ou aluno-aluno se desenvolva. Sem contato presencial, os estudantes a distância podem sentir inibição na relação com seu professor e com os colegas, tornando incômoda a situação de aprendizagem "individual". - A interação com os pares no EAD é fundamental. Normalmente, os alunos aprendem de forma mais eficaz quando têm a oportunidade de interagir com outros estudantes. A interação deve ser feita de modo que estimule a aprendizagem colaborativa como nos trabalhos de grupo. A interação informal como os bate-papos são também muito salutares no sentido de criar um boa ‘atmosfera’ na turma. A interação no EAD é também muito importante para amenizar o problema da falta de “sinais visuais” que o professor a distância sente. De fato, o professor a distância recebe poucos - se não nenhum - sinais visuais. É difícil continuar estimulando uma discussão professor-aluno ou entre alunos quando não há um contato visual. O professor pode nunca saber, realmente, se, por exemplo, os estudantes estão sonolentos, falando entre si, se estão interessados, etc. A interação através da utilização de algumas técnicas e meios como chats, com som e imagem, as vídeo-conferências podem amenizar muito esse problema. Em resumo podemos afirmar que o futuro
da EAD não estará fundamentado no estudo individual e solitário,
em que o aluno conte somente com o material educativo para desenvolver
a sua aprendizagem. O EAD deverá prover ambientes em que a autonomia
do aluno na condução do seu processo educativo, conviva com
a interatividade. Várias estratégias pedagógicas devem
ser previstas no planejamento, levando as diferentes formas de interação:
entre aluno/professor; aluno/com suas próprias experiências
e conhecimentos anteriores; aluno/aluno; aluno/conteúdo; e aluno/meio,
utilizando os mais diversos recursos tecnológicos e de comunicação.
4. Melhorando a interação e o feedback no EAD Não existe uma “receita de bolo” geral para a EAD quanto à utilização de estratégias pedagógicas que melhorem a interação. Sua utilização varia em função de muitos fatores, tais como os objetivos educacionais, os recursos metodológicos disponíveis, o tipo de aprendizagem desejado, etc. Como afirmam Sílvia Cardoso e Renato Sabbatini (2001) : “Os objetivos pedagógicos específicos à EAD dizem respeito à como a metodologia e os recursos a serem utilizados podem compensar ou substituir aqueles que ocorrem no ensino presencial, como reduzir o isolamento social (tirar o aprendiz do ambiente de classe e do processo social que a caracteriza), como substituir as pistas sensoriais não verbais de natureza coletiva ou individual (reações coletivas como riso, estranhamento, etc.), como diagnosticar as características individuais do aprendiz, como estilo cognitivo, disciplina de estudo, etc.” Dentro desse contexto, o EAD resgata o ensino individual, de interação um a um entre estudante e professor, e permite superar essas dificuldades, e atingir um ensino mas adaptado às necessidades e ritmos de cada aluno, embora isso aumente muito o trabalho do professor e o tempo gasto com a interação. Existem diversas formas de promover a interação no EAD, desde as mais simples, como perguntas e exercícios no próprio material impresso até formas mais complexas, como nas vídeo-conferencências em tempo real. As formas mais simples têm sido utilizada praticamente desde o início do EAD, nos cursos por correspondência. A interação era basicamente entre professor-alunos através de roteiros de estudo e textos com linguagem simples, direta, quase coloquial e a presença de perguntas, reflexões e exercícios, geralmente acompanhados com as respostas para os alunos verificarem seu conhecimento. A interação professor-aluno-professor também podia ser feita por correio através de cartas. A desvantagem era o considerável tempo que isso levava, apesar da vantagem do baixo custo. A interação entre colegas praticamente era inexistente. Com o avanço da tecnologia várias outras formas de interação foram disponibilizadas utilizando diversos meios de comunicação, como o telefone, o fax, e mais recentemente o computador através da internet (email, chats com ou sem voz e imagem). As videoconferências com transmissão de voz e imagem em tempo real, com velocidades cada vez maiores, via satélite, têm se mostrado como forma de interação quase ideal, simulando praticamente as situações de cursos presenciais. Vários resultados de pesquisas feitas na área de EAD podem sugerir algumas diretrizes importantes para professores utilizem estratégias pedagógicas que melhorem a interação no EAD. Vejamos algumas recomendações a seguir. - Para melhorar a interação, utilize diferentes tecnologias e meios sejam eles assíncronos ou síncronos, como correio, telefones, fax, computadores (internet – chats com ou sem voz e imagem, email), vídeo-conferências, etc. Escolha aqueles que se adequem melhor ao curso, ao professor, aos alunos e que sejam mais custo-efetivos. - Para uma boa interação é fundamental se certificar de alguns aspectos técnicos e de infra-estrutura. Primeiro é imprescindível tornar estudantes e professores cientes dos canais de comunicação a serem usados no curso, fazendo com que eles se tornem confortáveis a estes canais. Certifique-se também se cada local (ou estudante) está equipado corretamente com um equipamento funcional e acessível. Se possível providencie uma "linha telefônica gratuita" para relatar e corrigir problemas mais urgentes. - Sempre que possível e necessário, utilize facilitadores/tutores locais ou regionais. A utilização de facilitadores que desenvolvem uma boa empatia com o grupo e que possuem familiaridade com o equipamento e materiais do curso, aumenta a satisfação do estudante com relação ao mesmo e melhora o processo de aprendizagem. A presença deles facilita muito a interação no EAD. O uso de um facilitator se faz ainda mais necessário para estimular a interação quando os estudantes distantes demonstrarem-se relutantes para fazerem perguntas ou para participarem. Recomenda-se em torno de um tutor para cada vinte alunos. - Use o feedback adequadamente, para melhorar a qualidade da interação. Os professores podem aumentar a motivação através do "feedback" constante e do incentivo à discussão entre os aprendizes. O "feedback" do professor em tempo hábil certamente ajuda a manter a auto-estima do aprendiz, principalmente, quando esse é dado de uma forma personalizada. Muitos alunos desistem do curso em EAD por falta de um feedback correto e em tempo. Comentários para melhoria são extremamente úteis. - Para melhorara também a qualidade da interação estimule o trabalho em pequenos grupos (duplas ou triplas). A interação entre eles acarreta na resolução de problemas/tarefas em grupo. Exercícios nos quais os alunos devem trabalhar juntos e depois se reunirem (virtualmente) para uma apresentação para toda a turma, normalmente, aumentam a interação entre eles. No entanto, para isso, é necessário que os objetivos da atividade de grupo sejam definidos de forma clara e realística. - Forneça um fórum para sugerir melhorias do curso. O uso de estratégias eficazes de interação e de "feedback" permitirá que o instrutor identifque as necessidades individuais do estudante e possa atendê-las. - Sempre que possível inclua um ou mais momentos presenciais durante um curso em EAD. Esses momentos melhoram consideravelmente a socialização entre os alunos com implicações bastante positivas no aprendizado. - Para melhorar a interação e o "feedback", a Coordenação de Educação a Distância da PUC-RJ . recomenda que alguns aspectos sejam considerados. Veja a seguir os que consideramos mais relevantes: - ·“Cedo no curso, peça aos estudantes para contatá-lo e para interagirem entre si através do correio eletrônico, para que eles se tornem confortáveis com o processo; compartilhe as notícias de jornal eletrônico, isto pode ser muito eficaz para este objetivo.” - · “Reserve algumas horas para
estar disponível por telefone usando um número gratuito,
se possível; estabeleça horários noturnos, caso a
maioria dos aprendizes trabalhe durante o dia.”
Referências bibliográficas Brunning, R. H., Schraw, G. J. & Ronning, R. R. (1995). Cognitive Psychology and Instruction. 2ª Edição. Prentice Hall, Columbus – Ohio – EUA. Coordenação de Educação a Distância da PUC-RJ, Tecnologia de Educação a Distância. Material parcialmente traduzido e adaptado do texto "Distance Education at a Glance" da Universidade de Ohio Cardoso, S. H. & Sabbatini, R. (2001).
O Ferramental Pedagógico para a Educação a Distância
– Parte II. Curso Capacitação Docente em EAD. UNICAMP – Campinas-
São Paulo.
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